sexta-feira, 15 de maio de 2009

Inquietações da Pós-modernidade


Podemos compreender a pós-modernidade como uma reação cultural aos ideais da modernidade, a rejeição ao determinismo científico como descrédito a objetividade da Razão. A incredulidade aos metarrelatos, acompanhados de forte tendência ao irracionalismo, o que pode ser evidenciado pelo fundamentalismo contemporâneo, a sociedade de consumo em detrimento a uma sociedade de produção, a incerteza da vida cotidiana, a insegurança na cidade, a precariedade dos laços afetivos e do trabalho, a troca do durável pela amplitude das diversas escolhas, o excesso de informações superficiais. Nesse sentido a pós-modernidade sobrecarrega a vida dos indivíduos com um grau de ansiedade e aporia sem precedentes.

Se partirmos da mensuração da proximidade e distância entre o presente e o passado recente percebemos que na modernidade sólida tanto os trabalhadores como os donos de empresas sabiam categoricamente que eles iriam se encontrar novamente amanhã, depois de amanhã e no ano seguinte, pois os dois lados dependiam um do outro. Na sociedade que se liquefaz no ar, podemos ser demitidos mesmo sem uma palavra de alerta. Os dois lados flutuam num labirinto de incertezas implicando nas perspectivas de longo prazo.

A “autonomia na Pós-modernidade como um delírio” permeia na desertificação do campo do Outro, os devaneios do caminhante solitário - em referência ao filósofo Rousseau, no que tange o sujeito que está sozinho no universo e que apreende com a natureza sem o auxilio do Outro, o qual a precipitação demasiada da autonomia é o protótipo que presenciamos atualmente. A redução do Universo da linguagem e do discurso numa relação dual em que o terceiro não tem mais sentido, que por sua vez acarreta na desertificação do Semelhante. Nesse caso a noção de alteridade é descartada, o qual não mais existe sujeito, mas objeto que acaba sendo instrumentalizado e manipulado em vista do desejo fluido não concretizado.

Do mesmo modo a Estética como não mais detentora das formas puras de beleza institucionalizada, das proporções harmônicas, do ideal de perfeição com um processo e projeto lógico, mas uma Estética que é vista de muitas concepções e visões interpretativas, que emerge agora com liberdade, permitindo várias narrações sendo caracterizado por manifestações simbólicas.
Sobressai uma Religião da desconstrução, de uma fé des-institucionalizada e des-ontologizada (que fica apenas com a experiência religiosa; da fluidez), de uma mística sem face, ou seja, uma mística sem o Outro, sem a palavra no sentido da não aceitação de algo que interfira requerendo comprometimento, basta analisar recentemente a imensa procura popular pelo des-velamento do suposto grande segredo da lei de atração para o sucesso pessoal.

Elevam-se dois riscos extremos: de um lado o relativismo como reação ao absolutismo, e de outro o fundamentalismo como demasiado apego ao fundamento devido à ausência crítica ou o irracionalismo pós-moderno, uma forma de usar a liberdade para tentar fugir dela diante o medo e insegurança a dissolução.

Para onde nos levará a pós-modernidade? Essa sociedade líquida caminha cada vez mais para a singularidade do sujeito, que em contrapartida, indubitavelmente desconhece as futuras conseqüências desse sereno movimento sobre a humanidade. Clara e distintamente precisamos constituir e ampliar os horizontes cognitivos da sociedade em vista de reascender a reflexão poderosa nesse diálogo sem fim com a condição humana.

Diego Losekam da Cunha

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