sexta-feira, 31 de julho de 2009

O que é um SER ÉTICO?

Numa sociedade organizada criam-se normas fundamentais nas relações cotidianas como, por exemplo: não deves matar, não deves mentir, não deves enganar, cumpre tuas promessas, não causes o sofrimento. Tais normas aprendemos desde crianças tornando-as parte do que chamamos consciência. Ao longo do tempo o ser humano passa da irreflexão dos seus hábitos, da heteronomia, para uma moral refletida e autônoma. A partir desse processo, saímos da menoridade para a maioridade, pois usamos nossa própria razão para as ações serem regidas no pleno livre-arbítrio e na responsabilidade individual. Não somos mais movidos por leis externas, mas agora o homem é capaz de autodeterminação, distanciando-se doravante dos impulsos e dos mecanismos instintivos.

Apesar dos condicionamentos naturais, desde os mais elementares e inerentes à sua existência, o homem pode reagir, pois ele se pergunta “o que devo fazer?”. Nisso ocorre sua autodeterminação, e que por sua vez responsabiliza-se pelas conseqüências de suas decisões. Mas qual a resposta do pressuposto interior ‘o que devo fazer’? Ora, conseguimos deduzir normas exclusivamente pela razão frente aos desafios da existência. Por conseguinte, o sujeito torna-se capaz de ditar normas para si após transformá-las num critério de validade geral, ou seja, universalizando-as. Por isso o filósofo alemão, Immanuel Kant (1724-1804) afirma: “Age somente de acordo com aquela máxima através da qual possas querer simultaneamente que se torne uma lei universal e necessária.” (Metafísica dos Costumes).

Não obstante, o termo ética designa-se, pois, a ciência do agir responsável do homem e essa ação consciente deve ser baseada na liberdade, nunca de maneira coercitiva. Por moral entendemos as ações praticadas por hábito e os costumes em geral, isto é, a parte prática dos princípios universalizados. A ética, por sua vez, analisa a dimensão pessoal da ação, mostrando o modo como o agir parte da própria razão da pessoa que age, por isso, que a ética é o fundamento da moral. Pela observação da ciência da moral descrevemos as normas que nos orientam e que também podem evoluir conforme o progresso ou retrocesso das ações humanas.

Do mesmo modo a indagação pelo dever, pelo que é o certo ou o errado não pode ser respondido por hipóteses ou tradições, num sentido vertical ou autoritário, mas pela racionalidade humana, de uma justificação horizontal. Visto ser a razão a essência característica do homem, realiza ele a sua natureza vivendo racionalmente e por isso consciente de si e do universo. Como afirmara o grande filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), a virtude é uma atividade conforme a razão, isto é, uma atividade que pressupõe o conhecimento racional.

Ademais, as normas do agir humano não decorrem da própria natureza, nem são descobertas por métodos empíricos [experimentais], mas são um produto da razão autônoma. Conseqüentemente seria dispensável falar em ética se o homem conduzisse sua vida conforme a própria natureza instintiva e estivesse determinado totalmente pelas leis naturais. Entretanto, poderíamos continuar a afirmar leis naturais para o agir humano depois de Charles Darwin? Ora, a luta pela vida com a vitória e a seleção dos melhores, das espécies mais fortes, se aplica hoje ao neoliberalismo econômico e social. O Humano não pode ser regido pela lógica das leis naturais.

O objeto da ética é o agir humano responsável, segundo o qual, o homem conduz sua vida para o bem viver, ao encontro de sua felicidade. Todavia muitas decisões e reações são instintivas e inconscientes, o que leva ao passo da reflexão crítica de nós mesmos, ou seja, a autocrítica que emerge quando desaparecem as evidências em como agir, buscando novos parâmetros. O fato é que o sistema social vigente perdeu sua auto-evidência moral, as instituições tradicionais perderam sua autoridade e legitimação, os quais não implicam mais um dever ser.

O conceito de bem, seja o privado e/ou coletivo necessita ser novamente revisitado e reavaliado, não mais de forma artificial, simplista e intolerante, que por tempos descartou as dimensões da pessoa humana, mas pautado no reconhecimento da humanidade, como aquele conjunto de seres que convergem mutuamente e concorrem para o bem estar do homem na terra. Devemos visar mais do que nunca uma moral que leve ao autoconhecimento, baseada no altruísmo, isto é, o viver para outrem, o ser útil a outro ser. Nisto consiste o ser humano, um ser aberto que supera o âmbito da natureza e da animalidade, para ser pessoa. Alcançamos a realização deste desígnio através da ética. Nem ser pessoa, nem ser humano, nem a ética, são dados prévios ou inscritos em alguma natureza pronta e também não são conquistados e cumpridos plenamente. É o empenhar-se, apropriar-se, desconstruir-se, amadurecer eticamente para tornar-se realmente humano.

Diego Losekam da Cunha

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Consequências da Racionalidade Moderna

Na modernidade tudo torna-se quantificável, mensurável, submetido as leis universais que possibilitam o movimento dos corpos. Reduzindo a physis tudo torna-se possível de ser decomposto fisica-quimicamente e decifrados matematicamente. A totalidade do ser humano abrange não mais sua subjetividade, mas esta só pode ser entendida em sua materialidade mensurável empiricamente.

A tarefa de construção de uma ordenação que correspondesse a uma totalidade, sendo que a condição humana se enquadra na possibilidade, regularidade em bases antropocêntricas exigindo no homem moderno a suspensão de qualquer telos meta-humano. Agora se faz mais do que nunca ascender à elaboração de um método para a busca do conhecimento e da verdade, caracterizando-se como científico. É a conceitualização que possibilita universalizar as descobertas, que estabelece leis e princípios determinantes da realidade, que ocorre a superação das crenças e superstições da história das civilizações.

Em contrapartida, essa moderna concepção de sociedade organizada racionalmente que preparava a humanidade para o progresso civilizacional, revelou-se com um profundo anti-humanismo. A rejeição de toda valoração e qualquer princípio moral, criou um vazio que foi preenchido pela idéia da utilidade social. O homem passou a ser um individuo objetificável.

O SENTIMENTO DO SEM SENTIDO

A decadência da modernidade transformou-se no sentimento do sem sentido, de uma ação que não aceita outros critérios que os da racionalidade instrumental. Toda subjetividade deveria ser descartada pela visão racionalista do mundo em uma ação puramente técnica pela qual a racionalidade é colocada ao serviço das necessidades.


Com o auto-desenvolvimento da sociedade moderna houve a substituição da responsabilidade moral por responsabilidade técnica, por isso a tecnologia da separação e segregação promovia a indiferença. Os crimes contra a humanidade eram justificáveis e reduzido pelo cálculo da autopreservação. Segue-se uma lógica da apreensão de ser eliminado que acarreta no exterminio do suposto agressor; esta racionalidade roubava a vida humana da sua humanidade.

Essa modernidade no seu alto grau científico, mostrou que colocar a autopreservação acima do dever moral não pode ser entendido como inevitável e nem responsabilizar as mesmas ações por supostos sentimento de ameaça.

A conceitualização do Outro com argumentos depreciativos servem para despertar os medos arraigados, a repulsa e aversão a serviço do extermínio, mas também coloca o Outro em uma distância mental na qual os direitos morais não são mais visíveis, por isso, o Outro não é mais objeto de avaliação moral.Nessa cosmovisão racionalista, declarar que uma categoria específica de indivíduos não tem lugar na ordem projetada, com o pressuposto da pureza, é dizer que essa categoria está além da redenção, ou seja, ela não pode ser reformada, adaptada ou forçada a se adaptar.

Violência Burocrática

A utilização da violência torna-se eficiente quando os meios são submetidos aos processos instrumentais e racionais que, por conseguinte se dissociam da avaliação moral. Todas as burocracias conseguem facilmente essas dissociações, do mesmo modo, isso é possível através da meticulosa divisão funcional do trabalho e toda graduação e subordinação hierárquica e também pela substituição da responsabilidade moral pela técnica.

Essa divisão do trabalho resulta numa determinada hierarquia de comando, cria determinada distância entre a maioria dos subordinados e os seus comandantes. Essa distância prática e mental significa que a maioria dos funcionários da hierarquia burocrática pode dar ordens sem pleno conhecimento de seus efeitos, talvez não sendo nem possível visualizar esses efeitos. Todos esses efeitos de distanciamento criados pela divisão hierárquica do trabalho são radicalmente ampliados uma vez que a divisão se torne funcional.

O impacto psicológico desse distanciamento é profundo e de longo alcance. Uma coisa é cuidar do fornecimento regular de aço a uma fábrica de bombas. O diretor de suprimento da fábrica não precisa pensar no uso a que se destinam as bombas.
O segundo processo para diss­ociação é a conseqüência final do distanciamento, ou seja, a substituição da responsabilidade moral pela técnica é possível através da separação funcional das tarefas. Não há envolvimento direto com as vitimas, do mesmo modo que cada pessoa dentro da hierarquia de comando é responsável perante seu superior imediato e por isso está naturalmente interessada na opinião dele e na sua aprovação do trabalho. Uma vez distanciados, os funcionários, graças à complexa diferenciação funcional dentro da burocracia, dos resultados finais da operação para o qual são os promotores, suas preocupações morais se concentram completamente na boa execução da tarefa a sua frente.

Como no Imperativo categórico Kantiano, o importante não é apenas a boa vontade em fazer a ação, nem o fim da mesma, mas, sobretudo o cumprimento do dever, diante disso, para poder ser é necessário que o indivíduo cumpra o dever sem interpelação. Aqui a moralidade se resume ao comando para ser um trabalhador bom, eficiente e diligente especialista.

A vítima é sempre transformada em objeto e como sempre se sucede aos objetos da ação, não importa mais se são humanos ou seres inanimados. O que interessa é a delimitação dessas fronteiras de espaço e tempo, para controlar e administrar o objeto.

“Encontrar-se um homem é ter que manter-se ante um enigma” (LEVINAS). Quem é humano, demasiado humano que se torna objeto? Desvelou-se a força o humano? Conscientemente arrancou-se o humano de sua humanidade...

ESTÉTICA E PUREZA

A sociedade como objeto de planejamento com projetos conscientes. A sociedade pode e deve ser refeita, forçada a conformar-se a um plano geral cientificamente concebido. Além disso, a dimensão estética nesse projeto na tentativa de esclarecer o que é o mundo ideal a ser criado em conformidade com os padrões de uma beleza superior. Uma vez constituído, será imensamente satisfatório, como uma obra de arte perfeita e total, como anteriormente o filósofo alemão Hegel idealizava. Essa obra sublime não permitiria nenhum acréscimo, redução ou alteração, pois não se poderia melhorar algo que é perfeito.

O sonho de uma pureza absoluta seria a essência do racionalmente ordenado e tudo o que corresponde à mesma ordem, sintetizaria a concepção de um mundo puro e perfeito. A sujeira vista como desordem não pode se enquadrar nessa visão de mundo, o único destino seria o aniquilamento daquilo que era imperfeito disforme e desorganizado. A modernidade manteve a concepção puramente racional da realidade, a ciência e a técnica foram a força propulsora do progresso da humanidade, tudo o que fosse obscuro, que ficasse “fora do lugar” harmonioso, da matematização da natureza deveria ser administradamente pela precisão da técnica, posto para fora ou eliminado, pois não se ordenava ao mundo social ajustado da modernidade.


Especificamente o nazismo, ao primar por impelir a tendência totalitária a seu extremo radical e caracterizar-se como um fenômeno da modernidade, exalta-se com o problema da pureza, sendo esse ressaltado de forma racional, o que culminará com a preocupação com a pureza da raça. Nesse caso a sujeira caracterizar-se-á pelo indesejável e incompatível povo judaico com sua arte degenerada bolchevista e a pureza será o ariano puro com sua arte grego-renascentista. A sujeira – judaísmo e arte abstrata (degenerada) – não pode ser afastada ou despejada para fora do alcance da pureza, pois ela continuará infestando outros ambientes e pervertendo a ordem racional das coisas. A única saída será o processo de higienização no Departamento de Higiene Racial e Planejamento Social Nacional-Socialista, a qual deverá remover qualquer resquício de infestação ou imundície. Indubitavelmente essa sujeira acabará entrando pelo portão do “Arbeit macht Frei” e saindo silenciosamente pela chaminé em forma de fumaça.


A busca da pureza moderna expressou-se com a ação punitiva contra as classes perigosas; a busca da pureza pós-moderna se expressa diariamente com a ação punitiva contra aqueles que não podem se encaixar as formas puras do consumismo nos grandes centros e lojas, que não são possíveis de serem enquadrados nas formas lógicas da sociedade de consumo e da livre competição. São os moradores das ruas pobres e das áreas urbanas proibidas, os vagabundos e indolentes que merecem ações punitivas a fim do afastamento desses intrusos e forasteiros da ordenação, lógica e racional da fantasia da pureza pós-moderna.

Tanto na modernidade, quanto na pós-modernidade a “impureza” no centro da ação punitiva é a extremidade da forma incentivada como pura, a extensão até os limites do que devia ter sido, mas não podia ser, conservou-se em região fronteiriça. Na concepção moderna caracterizada pela instrumentalização da razão, com um ideal de pureza total a fim de fazer imperar a ordem das coisas, que visa separar aqueles que não se enquadram nas formas puras do pensar, faz brotar categoricamente fenômenos análogos ao Holocausto, isto é, da completa desumanização da condição humana.

EUGENIA: uma boa linhagem?


A Eugenia adquiriu status científico e objetivou programar um método de seleção humana baseado em premissas biológicas. A busca pela valorização da beleza e a idéia de saúde física e mental, a questão da boa aparência e da eficiência para o mercado de produção e serviços estariam ligados ao resultado do aperfeiçoamento da espécie humana.

O pai da Eugenia, Francis Galton afirmaria a necessidade do aperfeiçoamento da espécie humana através da seleção natural ou artificial. Selecionavam uma “boa linhagem” de melhores exemplares humanos, aqueles que demonstravam ter as características mais adequadas para transmitir à geração seguinte e incentivá-los a reproduzirem-se, de forma a melhorar a espécie humana. Através da Eugenia se incentivava casamentos minuciosamente selecionados, nesse sentido a ciência médica assistia as famílias destinadas a povoar a sociedade perfeita. O médico passa a ser um elo importante entre a saúde e a beleza, ele é o responsável pela dimensão estética da humanidade, pois é de seu dever a purificação da raça. E, não obstante, se postulava que a inferioridade também era hereditária e a única maneira de livrar a espécie da degeneração seria através da esterilização, consentida ou não. Previa métodos como da eutanásia, do infanticídio e do aborto.

Com a descoberta da microbiologia por Louis Pasteur que repercutiu intensamente na medicina e na sociedade, suas idéias passam a ser fundadoras da saúde pública e da medicina social. A invenção das vacinas assim como outras técnicas curativas para as doenças epidêmicas desse período tiveram o papel de biologizar a política ao ditar normas de curar e regras higiênicas. Surgiram os médicos higienistas e as políticas sanitárias. Conseqüências? Desumanização do Outro. Propomo-nos agora, percorrer o caminho do bem além do ser, um caminho no chão da antropologia e da ética.

RACISMO E CIENTIFICISMO


Impossível é falar de racismo na modernidade sem ligá-lo diretamente ao avanço da ciência moderna, da tecnologia moderna e das formas modernas de política estatal. Como tal o racismo é um produto moderno na sua estrutura e desenvolvimento. Por isso a modernidade não criou o racismo, mas o tornou possível.

Segundo o estudo detalhado de Pierre-André Taguieff, o racismo é sinônimo de heterofobia (ressentimento da diferença). Ademais o racismo é a seu ver universal, usa-se teorias e bases lógicas para o ressentimento, ele é pensado logicamente e se impõe. O racismo é como uma reação natural à presença de um estranho desconhecido num grupo de forma que este seja à primeira vista, analisado de forma intrigante e diferente dos demais. A primeira resposta a esta estranheza é a antipatia que pode levar à agressividade. Essa universalidade é espontânea e não precisa de uma investigação, nem de uma teoria para legitimar a dúvida em relação ao forasteiro.

Quando começa a inspiração da legitimação contra o individuo e nasce uma mobilização política, encontra-se já num racismo racionalizado. Essa transformação ocorre quando se fornece teorias que criam bases lógicas para o ressentimento deliberado. Nesse caso a alteridade repelida é representada objetiva e racionalmente como perigosa, é vista como uma ameaça ao bem estar do grupo ressentido. Já o racismo mistificador, pressupõe os outros níveis de racismo como inferiores, pois se distingue pela elaboração de argumentos científicos e estritamente biológicos para legitimar sua concepção de raça.

Numa sociedade em que são visados o máximo melhoramento e funcionamento das condições humanas, com a reorganização das atividades com bases arraigadas numa racionalidade, o racismo expressa a certeza de que uma parcela de seres humanos é incapaz de ser incorporada à ordem racional. Num mundo em que progressivamente rompem-se barreiras e limites, e com a manipulação científica tecnológica e cultural, o racismo proclama que certas falhas de determinada categoria de pessoas não podem ser removidas ou ratificadas, que elas estão além da reformação e assim permanecerão para sempre. Assim um crime é punido e um vício só pode ser eliminado e nada mais.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Götterdämmerung

"É possível que aqui parem as colunas
Que essas intermináveis fileiras de homens

Se deixem levar pelo vento, se fragmentem e se dispersem
E que me desertem. É possível, é possível...

Eu, no entanto, permanecerei
fiel, mesmo que todos me abandonem.
Manterei a bandeira erguida, vacilado e sozinho.

É possível que os meus lábios
Sorridentes digam palavras loucas,

Mas a bandeira cairá quando eu cair
E, soberba, revestirá o meu cadáver, a guisa de mortalha."

terça-feira, 26 de maio de 2009

Dichter und Denker


"Was zum Raube sich die Zeit erkoren, Morgen steht´s in neuer Blüte da; Aus zerstörung wid der Lenz geboren, Aus den Fluten stieg Urania;Wenn ihr Haupt die bleichen Sterne neigen,Strahlt Hyperion im Heldenlauf...Freie Tage steigen Lächeld über euern Gräbern auf."


"Tudo quanto foi presa do tempo florescerá novamente amanhã, mais belo: a primavera nascerá da selvageria tal Urano nascendo das ondas. Quando as pálidas estrelas inclinam sua cabeça, Hipérion resplandece no seu trajeto heróico...Dias de liberdade se alçarão sorridentes sobre as vossas tumbas."


F. Hölderlin (Hymne an die Freiheit, 1793)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

O Mito do Progresso Civilizador


O fenômeno Holocausto foi conseqüência direta do “progresso civilizador” apresentado pela modernidade e sua racionalidade instrumental pela qual a sociedade é vista como objeto a ser eficazmente administrado, melhorado, controlado, dominado e refeito. Como o pensamento forte, da metanarrativa da Modernidade e o idealismo totalizador da realidade conseguiram moldar a desumanização do “Outro”, concebendo com “perfeição” o fenômeno Holocausto?

Com o Iluminismo, foi entronizada uma nova divindade, a Natureza, junto com a legitimação da ciência como seu único culto ortodoxo a dos cientistas como seus profetas e sacerdotes. Tudo, em princípio, fora aberto à investigação objetiva; tudo podia em princípio ser conhecido de forma confiável e verdadeiro. A verdade, a bondade e a beleza, aquilo que é e o que devia ser, tudo torna-se objeto observação sistemática e precisa. Por outro lado, só podiam legitimar-se pelo conhecimento preciso que resultaria de tal observação.

Da forma em que foi moldada pelo Iluminismo, a atividade científica era marcada por uma "tentativa de determinar o lugar exato do homem na natureza através da observação, mensurações e comparações entre grupos de homens e animais" e da "crença na unidade do corpo e da mente". Isso "supostamente se expressava de forma tangível, física, que podia ser medida e observada".

A partir do Iluminismo o mundo moderno se caracterizou por uma posição ativa, planejada, em relação á natureza e a si mesmo. A ciência não devia ser praticada por si mesma; passou a ser vista, antes e acima de tudo, como um instrumento de poder que capacita seu detentor a melhorar a realidade, a moldá-la de acordo com os projetos e interesses humanos e a contribuir para o seu auto-aperfeiçoamento.

A jardinagem e a medicina davam os arquétipos da postura construtiva, enquanto a normalidade, a saúde e o saneamento forneciam as arquimetáforas para as tarefas e estratégias humanas na condução dos negócios humanos. A existência e a coexistência humanas viraram objeto de planejamento e administração; como plantas num jardim ou um organismo vivo, não podiam ser abandonados á própria conta, do contrário seriam infestadas de ervas daninhas ou destruídas por tecido cancerígeno.

A jardinagem e a medicina são formas funcionalmente distintas da mesma atividade de separar elementos úteis destinados a viver e prosperar, isolando-os de elementos perigosos e mórbidos que devem ser exterminados.

Na modernidade o serviço público infundiu nas outras hierarquias seu planejamento seguro e de seu pormenor a burocracia organizada. Do exército a máquina de destruição adquiriu sua precisão militar, sua disciplina e insensibilidade. A influência da indústria se fez sentir na grande ênfase dada à contabilidade, à economia e à preservação de recursos, assim como à eficiência industrial dos centros de extermínio. Por fim, as ideologias da modernidade, em especial lugar o movimento Nazista deram a todo o aparelho um idealismo, um senso de missão e uma noção de construção da historia para atingir o determinado progresso da civilização.

As instituições responsáveis pelo Holocausto, mesmo consideradas criminosas, não eram em nenhum sentido patológicas ou anormais. As pessoas que tiveram ações diretas com a Endlösung (Solução Final) tampouco se desviavam dos padrões estabelecidos de normalidade. Não eram nem anormalmente sádicos e nem anormalmente fanáticos.

Através da sociedade organizada, da pré-ocupação autenticamente racional, pela burocracia fiel a sua forma e propósito, que foi possível a “Solução Final”. Pela cultura burocrática que capacita a ver a sociedade como objeto de administração, como uma coleção de tantos “problemas” a resolver, como a natureza a ser controlada, dominada e melhorada ou refeita, como um alvo legítimo para o planejamento social e no geral como um jardim a ser projetado e mantido à força na forma planejada. Foi a própria atmosfera em que a idéia do Holocausto pôde ser concebida, desenvolvida lentamente, mas de forma consistente e levada até as últimas conseqüências.

Diego Losekam da Cunha

O comportamento Moral e a Política


A Ética é a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade que visa investigar os princípios universais e teóricos. Enquanto que a moral parte dos princípios da ética para a esfera do comportamento humano. A função da moral é a de regulamentar as relações mútuas entre os indivíduos e entre estes e a comunidade. Paralelamente, a política abrange as relações entre grupos sociais através de suas organizações especificas que devem ser orientadas para consolidar, desenvolver e transformar os propósitos político-sociais existentes. A atividade política propõe a participação consciente e organizada dos setores da sociedade, daí os projetos e programas a serem desenvolvidos. Nesse caso o indivíduo encarna uma função coletiva e sua atuação se baseia no interesse comum.

Mesmo que o grupo social sempre esteja presente na moral, é o individuo que deve decidir pessoalmente, livre e conscientemente se assume ou não a responsabilidade pela decisão tomada. Os atos individuais somente adquirem o caráter político na medida em que se integram na ação do grupo social. Não obstante, a política e a moral são formas de comportamento que devem permanecer em relação mútua, sem perder suas características especificas, isto é, sem que uma absorva a outra, ou a exclua por completo. A absorção da moralidade pela política pode se refletir na agressão contra um país pequeno mesmo que o agressor trate de justificá-lo politicamente, no caso pela sua segurança nacional.

Na medida em que os povos colonizados não mais se resignam a serem dominados, os agressores recorrem à moral para justificar a agressão. A pretensa atitude moralizante está no modo “imoral” do colonizado, na sua indolência, na criminalidade interna, na hipocrisia que, por conseguinte, serve para justificar a necessidade de lhe impor uma civilização superior. Essa é a tragédia da política imoral que maneja pressupostos morais para legitimar medidas neocolonialistas. Desta forma a política possui um campo especifico que a impede de ser reduzida a uma esfera da moral. A política não deve apropriar-se da moral para aplicar projetos ideologicamente programados, a conseqüência última disso é a transgressão e o desrespeito pela dignidade humana.

Precisamente porque o homem é um ser social, que se desenvolve sempre individual e socialmente, com seu interesse pessoal e coletivo, não pode deixar de atuar, ao mesmo tempo, moral e politicamente. A moral e a política devem assumir uma relação de concordância recíproca. Essa mutualidade se efetivará em sociedade, nas relações da vida pública e a vida privada.

Em síntese o que precisamos é de uma nova moral, sendo esta, conseqüência de transformações radicais na relação homem, sociedade e natureza. Os políticos devem propiciar condições de possibilidade para as mudanças sociais, eliminando interesses antagônicos e principalmente os privados. Do mesmo modo a busca pelo mínimo senso ético-moral da responsabilização consciente pelas atitudes administrativas a fim de extinguir a indiferença perante aqueles que realmente devem ser assistidos. Por conseguinte, faz-se necessário, mais do que nunca, visar uma moral que considere o ser humano sempre como fim em si mesmo e nunca como meio.
Diego Losekam da Cunha

Inquietações da Pós-modernidade


Podemos compreender a pós-modernidade como uma reação cultural aos ideais da modernidade, a rejeição ao determinismo científico como descrédito a objetividade da Razão. A incredulidade aos metarrelatos, acompanhados de forte tendência ao irracionalismo, o que pode ser evidenciado pelo fundamentalismo contemporâneo, a sociedade de consumo em detrimento a uma sociedade de produção, a incerteza da vida cotidiana, a insegurança na cidade, a precariedade dos laços afetivos e do trabalho, a troca do durável pela amplitude das diversas escolhas, o excesso de informações superficiais. Nesse sentido a pós-modernidade sobrecarrega a vida dos indivíduos com um grau de ansiedade e aporia sem precedentes.

Se partirmos da mensuração da proximidade e distância entre o presente e o passado recente percebemos que na modernidade sólida tanto os trabalhadores como os donos de empresas sabiam categoricamente que eles iriam se encontrar novamente amanhã, depois de amanhã e no ano seguinte, pois os dois lados dependiam um do outro. Na sociedade que se liquefaz no ar, podemos ser demitidos mesmo sem uma palavra de alerta. Os dois lados flutuam num labirinto de incertezas implicando nas perspectivas de longo prazo.

A “autonomia na Pós-modernidade como um delírio” permeia na desertificação do campo do Outro, os devaneios do caminhante solitário - em referência ao filósofo Rousseau, no que tange o sujeito que está sozinho no universo e que apreende com a natureza sem o auxilio do Outro, o qual a precipitação demasiada da autonomia é o protótipo que presenciamos atualmente. A redução do Universo da linguagem e do discurso numa relação dual em que o terceiro não tem mais sentido, que por sua vez acarreta na desertificação do Semelhante. Nesse caso a noção de alteridade é descartada, o qual não mais existe sujeito, mas objeto que acaba sendo instrumentalizado e manipulado em vista do desejo fluido não concretizado.

Do mesmo modo a Estética como não mais detentora das formas puras de beleza institucionalizada, das proporções harmônicas, do ideal de perfeição com um processo e projeto lógico, mas uma Estética que é vista de muitas concepções e visões interpretativas, que emerge agora com liberdade, permitindo várias narrações sendo caracterizado por manifestações simbólicas.
Sobressai uma Religião da desconstrução, de uma fé des-institucionalizada e des-ontologizada (que fica apenas com a experiência religiosa; da fluidez), de uma mística sem face, ou seja, uma mística sem o Outro, sem a palavra no sentido da não aceitação de algo que interfira requerendo comprometimento, basta analisar recentemente a imensa procura popular pelo des-velamento do suposto grande segredo da lei de atração para o sucesso pessoal.

Elevam-se dois riscos extremos: de um lado o relativismo como reação ao absolutismo, e de outro o fundamentalismo como demasiado apego ao fundamento devido à ausência crítica ou o irracionalismo pós-moderno, uma forma de usar a liberdade para tentar fugir dela diante o medo e insegurança a dissolução.

Para onde nos levará a pós-modernidade? Essa sociedade líquida caminha cada vez mais para a singularidade do sujeito, que em contrapartida, indubitavelmente desconhece as futuras conseqüências desse sereno movimento sobre a humanidade. Clara e distintamente precisamos constituir e ampliar os horizontes cognitivos da sociedade em vista de reascender a reflexão poderosa nesse diálogo sem fim com a condição humana.

Diego Losekam da Cunha

Quando falamos em Ética

A Ética se refere aos fins fundamentais, com os valores supremos, com princípios, ou critérios fundadores de ações. A Moral tem a ver com os costumes, os atos dirigidos conscientemente diante a sociedade, o conjunto de valores e de hábitos consagrados pela tradição, por isso a moral é a parte prática dos valores que tem sua fundamentação na Ética. Nessa perspectiva a conceituação de Ética-Política foi se estabelecendo historicamente, desde Platão e Aristóteles, até os pensadores da Filosofia-Política Moderna, com Hobbes, Locke, Rousseau, Hume dentre outros.

Todavia é Immanuel Kant que alega e fundamenta a existência de máximas Universais, construídas racionalmente pela singularidade de cada sujeito, e que essas Leis devem ser enquadradas a realidade de cada individuo. Faz-se necessário as ações corresponderem como Imperativo Categórico, o qual os atos sejam respeitados pela autonomia de cada sujeito, no seu livre-arbítrio. Todavia quando as leis universais são aceitas pela coerção - em que a força que emana pelo poder do Estado impõe respeito à norma legal – ou mesmo pela obrigação imposta como forma de Imperativo Hipotético, isso segundo Kant, efetiva-se por imoralidade. Quando qualquer individuo que anteriormente constrói racionalmente suas máximas universalizando-as, em sua plena consciência, para fazer possível o “mundo social ajustado”, não poderá de modo algum, estabelecer a exceção de qualquer lei consentida como absoluta à sociedade organizada. Desta forma o mesmo sujeito estaria entrando em contradição com sua construção ao nível racional (vernunftel), nessa perspectiva o paradoxo é uma forma de antiética ou mesmo imoralidade.

Na pós-modernidade, que inexiste a linearidade histórica, em que não mais a metanarrativa tem predominância sobre a realidade, em que a ideologia fundamentada por vez num sistema complexo de forte ênfase sobre a Ética, não mais ocupa lugar sobre o espaço e tempo presente. Diante essa forma multilateral de conceber a realidade, se fazem possíveis várias histórias. A Moral não é mais centrada em princípios Éticos Universais, de certezas absolutas que direcionam todos ao mesmo objeto. Existe a Moral Aporética porque convive com o incerto, ou seja, o individuo tem dúvidas diante uma escolha, no exato rumo para o seu discurso.

Esse contra-senso diante uma Ética fundamentada na universalização com uma Ética particularizada, emergem diversas ações que geralmente não condizem para o ajustamento da sociedade na sua complexidade de relações. A Política - enquanto conjunto de objetivos que enformam determinado programa de ação governamental e condicionam sua execução - e especificamente os legisladores que relativizam constantemente o próprio concebimento da Ética, tornando-a eficaz para o corpo orgânico estruturado em todos os níveis da vida social. Todavia as exceções de Kant, que são efetivadas como antiética, aparecem constantemente quando as comparamos as estâncias da corrupção governamental, talvez diante a perda do ego político empreendedor, idealista e revolucionário, ou mesmo pela demasiada inclinação para pequenas transformações e interesses pessoais.

Em síntese o que precisamos, é reacender a chama do advento de uma nova era, não mais eivada de desigualdades e lutas, uma nova mentalidade de uma juventude desejosa de crescer. O renascimento da inspiração denodada pela libertação dos povos explorados, pelo engrandecimento de sua pátria através de melhores métodos de aproveitamento da sua juventude e do denominado povo, nos quais repousa toda a riqueza da nação.
Diego Losekam da Cunha

quarta-feira, 13 de maio de 2009

"Den Himmel überlassen wir den Engeln und den Spatzen." HEINE

sexta-feira, 8 de maio de 2009

O LEGADO DE RICHARD WAGNER (1813-1883)

Minha vida, afinal valeu para alguma coisa” concluiria Wagner em sua despedida eterna. O artista de Bayreuth foi ao mesmo tempo metafísico, dramaturgo, poeta e sinfonista. Tentou a fusão das artes para realizar algo extraordinário e inimitável. Sua missão era fazer da arte e da música uma síntese de todas as formas de conhecimento e da ESTÉTICA uma espécie de monumento Babilônico, orgulhoso e único.

A música operística deveria abranger uma linguagem global, um pensamento confusamente total, uma sensibilidade sintética e MÍTICA, uma espécie de ponte entre o Ideal e o Real. A música, segundo Wagner, não deveria ser simplesmente uma combinação de sons agradáveis ao ouvido, mas acima de tudo ela significava o Universo que existia dentro de si próprio, uma espécie de “metafísica mesma de meu ser”.

Eu definiria de bom grado os meus dramas como ações musicais que se tornam visíveis”, algo ideal que se entrelaça sobre a intermediação do artista à realidade. “Isto porque a música revela como coisa-em-si, a essência mais íntima do mundo”, pois ela OPERA e CRIA.

Através do mundo de mitos e lendas do povo alemão, Wagner desenvolveu seus “Leitmotiven” (Temas Condutores), eles guiavam o trabalho, os quais apresentavam texto e música em plano de igualdade, fundido a elementos COREOGRÁFICOS, PICTÓRICOS e ARQUITETÔNICOS.

Richard Wagner foi fiel às raízes culturais alemãs ao passo que valorizou o misticismo e a fantasia caracterizando sua “arte integral”. Para ele o ARTISTA deveria ser um sacerdote e a ARTE, uma religião que visasse ao engrandecimento do indivíduo, da raça e da humanidade.
Diego Losekam da Cunha

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O que é Estética?

A expressão Estética como ciência do conhecimento sensitivo, que por sua vez, é análoga à Razão, começou a ser usado por Alexander Baumgarten por volta do ano de 1750. Nesse caso a Estética referia-se estritamente à Aesthesis, como sendo sensibilidade, ou seja, referente aos sentidos humanos. Não obstante, Leibniz pretendia tornar o objeto de reflexão analítica não apenas o que é claro e distinto, mas fazer a analise apurada do que é obscuro e confuso. Aquilo que escapa da logicidade humana.

Agora são trabalhados os sentimentos obscuros, que não foram vistos anteriormente como as angústias e medos existenciais. Do mesmo modo Leibniz e Baumgarten desmantelam a pura razão e exaltam a vida que nos perturba e que não conseguimos entender. É trabalhar as Paixões da Alma.

Se partirmos do pressuposto que o objeto da Estética é a arte, haveríamos de admitir como Nietzsche que “precisamos da mentira da arte para viver”. A deploração Nietzscheniana a arte, era vista com demasiada freqüência como um enfeite da existência humana, como um pequeno ornamento encarregado de trazer um pouco de fantasia a uma vida escravizada ao funcional. É quase uma negação da racionalidade que também é capaz de compreender que o rosto não maquiado mostra a realidade do verdadeiro.
Diego Losekam da Cunha

terça-feira, 5 de maio de 2009

Tributo ao poeta Hölderlin

Friedrich Hölderlin (1770-1843), e sua poesia com traços típicos do romantismo alemão, viveu afastado de todos, sendo mais tarde vitima do trágico destino de loucura. Sem dúvida, hoje Hölderlin é julgado um dos maiores poetas alemães.

Suas características, do amor pela história grega, o primado espiritual da beleza e da poesia como as únicas capazes de captar o Infinito-Uno, o forte sentimento da pertença ao Todo do universo e a divinização da natureza, entendida como origem dos homens e deuses, marcará seu papel na história, ainda mais quando reavaliado pelo filósofo Heidegger.

Um exemplo do romance dramático do Poeta encontra-se na sua obra “Hiperion ou o eremita na Grécia”. Hiperion é um grego do século XVIII que queria lutar pela independência de sua pátria dominada pelos turcos e para fazer renascer a antiga Grécia, mas que ao final se dá conta de que os gregos de seu tempo são bem diferentes dos antigos. A essa amarga desilusão, acrescenta-se ainda a morte de sua amada Diotima, depois de seu refugio na Alemanha, onde ele, no entanto, encontrará total incompreensão. Por fim só encontra paz refugiando-se no seio da divina natureza.
Diego Losekam da Cunha

O HINO À NATUREZA

Hölderlin conclui o Hiperion com a essência do seu pensamento, constituindo uma das expressões mais significativas no “naturalismo” romântico.

“Ó tu natureza, com teus deuses – pensei. Sonhei até o fim o sonho das coisas dos homens. E agora eu digo que só tu vives e que tudo o que aqueles que não têm paz conquistaram com esforço e pensa-ram agora se desfaz, como bolas de cera, em contato com tuas chamas!

Há quanto tempo eu sentia a tua falta? Desde o tempo em que tal multidão te insulta, dizendo vulgares os teus deuses, os vivos, os serenamente felizes!

Os homens afastam-se de ti como frutos murchos: deixa-os morrer para que retornem à tua raiz. E eu, ó árvore da vida, que eu possa reverdecer contigo e respirar em torno de tua fronde, com todos os teus ramos carregados de rebentos! Doce e intimamente, porque todos nós germinamos do áureo graneiro de sementes!

Vós, fontes da terra! E vós, flores! E vós, bosques e águias! E tu, irmã luz! Como é antigo e novo o nosso amor! Nós somos livres e não nos angustia o assemelharmos-nos exteriormente. Como não deveria mudar os modos de vida? Todos nós amamos o céu e nos assemelhamos intimamente, no mais profundo de nós mesmos.

Ó alma, ó alma, beleza do mundo, indestrutível e fascinante, com tua eterna juventude, tu existes! Tudo ocorre por efeito de um desejo e tudo termina na paz.

As veias partem do coração e a ele retornam – e tudo é única, eterna e ardente vida!”

Friedrich Hölderlin (1798)

O Problema de Deus na Filosofia

A Metafísica começa quando Deus passa a ser a medida de todas as coisas. Ademais Aristóteles costuma afirmar que por necessidade racional temos que admitir um Motor Imóvel, para não cairmos no absurdo. Esse Motor consegue mover o universo permanecendo na plena estaticidade, diante disso, ele é o principio, a causa primeira do todo. Para Santo Agostinho o conhecimento de Deus só é possibilidade no interior do homem, pois Deus está em mim mesmo como condição de possibilidade de conhecimento no meu entendimento.

Com o início da modernidade, Descartes acreditava que o conhecimento de Deus está no pensamento, quando o sujeito usa seu cogito. No ato de duvidar, eu já penso e ali está o conhecimento de Deus. Mais tarde Kant afirmaria que é uma necessidade da existência humana, um ser superior para coadunar o mundo social ajustado, por isso, nosso conceito de liberdade, moralidade e imortalidade da alma se abarcaria numa metafísica.

Em seu ateísmo, Feuerbach formula a gênese do homem como criador de Deus. Segundo ele, Deus é a imagem e semelhança do homem, nesse sentido o homem é o centro do universo, é ele o divino que perpassa no círculo de sua própria existência, talvez como o homem vitruviano de Leonardo da Vinci em seu antropocentrismo renascentista.

Todavia o ateísmo faz parte do fenômeno religioso, quando partirmos do pressuposto que a experiência religiosa implica da existência ou não de Deus. Por isso, a Filosofia da Religião estuda o fenômeno religioso e a prática humana que é Deus.

O problema do conhecimento de Deus perpassará a historia de evolução da humanidade. Por conseguinte ainda paira as incógnitas filosóficas: o que realmente existe na mente humana que possibilite o conhecimento de Deus? É possível partir do cogito para chegar até Deus? A minha mente finita poderia criar uma idéia infinita? Se problematizar a tese agostiniana, como Deus pode estar em mim? E como eu posso ser moradia de Deus? Além disso, como eu sei que minha crença não foi uma “vida” de mentira? Em vista disso, como posso chegar a indubitabilidade da certeza?

Talvez a FÉ possa nos orientar, para chegar a “compreensão” daquele que ordena o universo através da Iluminação cósmica, possibilitando reconhecer a medida e o parâmetro de toda humanidade.
Diego Losekam da Cunha

segunda-feira, 4 de maio de 2009


"Desejo aromas e risos,
desejo novas canções
sem lua, sem lírios
e sem amores acabados.

Um canto do amanhecer
que sacuda as certezas do futuro
e encha de esperança
suas ondas e seu limo.

Um canto luminoso e tranqüilo,
repleto de pensamentos,
sem tristezas nem angústias,
mas com sonhos.

Um canto que penetre a alma,
as coisas e o vento
e que, por fim, encontre o seu repouso
na alegria de um coração eterno."

Frederico García Lorca